SANDRA
Sandra quando criança
não gostava de dançar ciranda
Caía sempre quando rodava
E então à noite, deitada, sonhava
Sandra quando soube do vestibular
virou adulta, sem querer
Estudou muito antes de prestar
mas nunca achou que não servia
Sandra quando entrou no curso
subia as escadas com alegria
e seus olhos apontavam cor
em tudo que via, era o primeiro dia
Sandra nem percebeu que os anos
passavam por ela sem tocar
E seu corpo sentia um frio
que nem a professora sabia explicar
Sandra se formou em pedagogia
e nunca se perguntou se era aquilo
mesmo que seu coração queria
Mas se sentia feliz de canudo na mão
As meninas que dançavam ciranda
com Sandra entraram no salão
com vestidos brancos e bolsas na mão
e rostos que sorriam por sorrir
Sandra desde antes de se formar
trabalhava pra recuperar drogados
Estava sempre com eles e sempre
E sempre nas dificuldades a seu lado
Os bêbados tentavam ser evangélicos
ou acreditar que o papa era santo
Mas santo era o balanço dos quadris
que em Sandra versejavam a andar
Então Sandra conquistava, se virava
se punha a namorar, como nova droga
uma flor mais delicada que a papoula
cujo cheiro deixava loucos os seus
Um dia em uma relação cotidiana
o primeiro soco lhe atingiu a pestana
em seu olhos aflorou um roxo intenso
foi quando um faca enferrujada penetrou
Então as rodas de ciranda, a criancice
as cores da faculdade e a pedagogia
passaram tão rápido naquela noite
que voltaram sempre, até morrer, de dia.