Carnaval enlatado

Cadê a magia?

A festa agora é comercial!

De fundo eleitoral...

Rádios de sons empacotados.

Fantásticas eternidades momentâneas.

Paixões corrompidas!

Arte esquecida...

Num continente isolado.

No aglomerado de gente.

Promessas!

Luzes e festas para todo o povo.

Enfeites para necessidades inerentes.

Sempre e de novo...

“Vamos celebrar minha cidade!”

E quanto ao resto...

Não teremos pressa...

Vamos celebrar as desigualdades!

A banda está calada.

Os jovens mortos nas estradas.

O cheiro de urina na rua incrustado...

Restam lendas dos tempos da magia

Do perfume, do confete e da serpentina...

Cadê o Rei Momo?

O encanto do samba e das marchinhas?

Onde está a arte das alegorias?

Agora é tempo de abadas das hierarquias.

Do esquecimento das fantasias.

Do ritmo cansativo, repetitivo.

Com letras nem finas nem marginais.

Apenas ingênuas, fúteis e banais...

È preciso resgatar e reinventar.

Tradição cultural submissa.

Refém do comercial...

Mas todos querem celebrar...

É tempo de carnaval...

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