Canto de um homem só
Há mais de ti
dentro da noite do que
pensavas realmente
Os muros de concreto,
homens cinzas falam numa
língua cujas
imagens mofas, duras
petrificam o sujeito e o
próprio objeto
Os pulmões respiram
o pó dessa palavra
E tu já não tens mais a
medida exata do real, o que se diz
é somente o que o ouvido encontra
nos rádios e televisão
jornais e anúncios
Mergulhado, então, neste silêncio
da noite profunda,
esperas dizer o que ninguém disse,
falar o que ninguém ouviu
Mas o que é da tua palavra,
se queres falar sozinho,
senão um tiro no escuro
És tu assim apenas
um homem de mágica sem o ofício
a quem o dedo apontado
não diz mais dele
do que ele de si próprio
E quando o dia chega
e pressentes a luz
a dissipar sombras na tua boca,
já é demasiado longe
saber à quantas milhas submarinas
estás submerso na noite,
Calado.