Canto de um homem só

Há mais de ti

dentro da noite do que

pensavas realmente

Os muros de concreto,

homens cinzas falam numa

língua cujas

imagens mofas, duras

petrificam o sujeito e o

próprio objeto

Os pulmões respiram

o pó dessa palavra

E tu já não tens mais a

medida exata do real, o que se diz

é somente o que o ouvido encontra

nos rádios e televisão

jornais e anúncios

Mergulhado, então, neste silêncio

da noite profunda,

esperas dizer o que ninguém disse,

falar o que ninguém ouviu

Mas o que é da tua palavra,

se queres falar sozinho,

senão um tiro no escuro

És tu assim apenas

um homem de mágica sem o ofício

a quem o dedo apontado

não diz mais dele

do que ele de si próprio

E quando o dia chega

e pressentes a luz

a dissipar sombras na tua boca,

já é demasiado longe

saber à quantas milhas submarinas

estás submerso na noite,

Calado.

antônimo
Enviado por antônimo em 23/02/2009
Reeditado em 07/02/2010
Código do texto: T1453364
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