Soneto de Tempo
Em face do presente, tu procuras
o passado, que é onde a carne vibra
Saboreias a bruma da alegria
sobre as águas que correm, a água pura
é esse esfacelamento de uma dura
forma pela memória arrefecida
Já de ontem teu desejo, e quem tinha
vontade não eras tu, e essa secura
debruçou-se ante teus olhos, pois fito
o que era verdadeiro só restou
à garganta, à forca, o já dito
Mas as águas não correm para trás
Tais querelas da vida são só os sais
que a forma breve em ti não dissipou