LÁGRIMAS DE AÇO

Luzes sinistras desanoitecem o céu

e o medo franze a testa da noite.

É prenúncio de morte iminente,

anunciada,

amplamente denunciada.

Ação final, fatal,

inconseqüente.

É a guerra com suas garras afiadas

que perfura sonhos,

alimenta-se da dor

como abutre ensandecido.

Olhares tétricos

deslindam as fronteiras da barbárie,

iluminam-se de pavor

por mísseis teleguiados,

que danificam o céu

e explodem raivosos

sobre alvos errados.

A negridão intrínseca

crepita e treme e quebra-se

ao estrondo que retumba

espirrando cinzas

pelas frestas da história.

Entre a luz e a escuridão

palácios, templos, monumentos...

morrem,

esparramam-se vencidos.

Viram ruínas de uma era

desexistindo o que era.

No descompasso da existência

bombas humanas

desumanizam seres.

É gente sem voz

com olhar enferrujado

virando escombros

de idéias retorcidas.

E com lágrimas de aço

mães em desespero

fabricam abrigos

para guardarem seus filhos.

Essências adormecidas

em gavetas de alabastro.

Da Antologia "Novos Talentos" - p. 45 - Edição 2004