VERSO PENDURADO
®Lílian Maial 



                  Há um verso
  P
E
N     
  D
U
 R

    D
O
na borda da boca,
Sem vontade de hoje.
Um corpo abandonado, pele opaca e seca,
Retirante absurda de chão de só.

Bailarina sobre o fio da lâmina,
Percorro o medo de olhos vendados,
Sem sombrinha,
Por abismos de nada, ao redor do vazio.

Peito oco, fenestrados amanheceres,
Inconsistentes madrugadas.
Não te vejo, não me sinto,
Não nos entendo.

Corrosiva dor que não dói,
Ferida que não sangra,
Sombra que não me acompanha.
Preciso saltar, nem sei onde estou.

Não encontro – e nem procuro - teus olhos de macho.
Não há porta, nem sinal.
Longo e torturante corredor sem movimento.
Cansada e tonta da viagem sem bagagem,
Ombros pesados de escuro.

Há uma tênue esperança de dor,
Grito abafado e delicado,
Absoluta ausência de febre.

Não quero essa alameda beirando a morte!
Não sem cor, sem cheiro de sangue!
É hora da chaga margeando o desejo,
Cheiro sulfúrico inebriando o membro,
Vontade de prazer e sofrimento!

O verso foge,
O poema esfria,
E te vais em teu caminho,
Numa solidão de nós.
E eu, cega, guiada pelo cão da vida,
Tateando lembranças.

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