10 versos desiludidos
I
Por deus!, não queria ter tanta desilusão
Essa mágoa eterna no coração
De quem vê no amor solução pra tudo
E se vê da noite pro dia, cego, surdo e mudo.
II
Calafrios se apossaram de mim
Tenho momentaneamente abortos
De quem sente dentro um sentimento morto
E sente ser, eternamente, assim.
III
Trezentos e sessenta e cinco dias
Esses anos meus serão todos tediosos
Na cabeça que carcome, hoje, agonia
Dessa mescla de sentimentos cabulosos.
IV
Trabalhar, comer, escrever e dormir
Dormir pouco me importando se acordarei
E se acordar, por um instante sorrir
Só pra lembrar que de porra nenhuma eu sei.
V
Há momentos, em tempos, é fato
Me dedico, sou feliz, e é recíproco
Há momentos que penso mesmo se mato
Já sei a muito que, afinal, d’amor sou rico!
VI
É uma dor que até supera as chagas
E de costume, putrifica até a mente
Desilusão que a chama da vela apaga
E num canto escuro, só resta ranger os dentes.
VII
Vê só o mundo! Amor se diz em todo canto
“Sê feliz, ame, e crie bons frutos”
Mas fala, assim, sem saber – e eu me espanto
Eles, elas, falsários – cambada de putos!
VIII
Maior desafio é de um coveiro
Que – com eu, desiludido – dá o repouso
E vê, dia a dia, o único nosso paradeiro
Qual desafiar, eu ainda ouso.
IX
Se é assim, que seja - Deixarei que me ame
Mas não me peça a paz no coração
Se logo já me contagia também o sentimento infame
Que vai muito além de uma desilusão.
X
Atrofia-me os nervos da cabeça aos pés
De dó e dor, de amor e desesperança
Sofro sabendo bem de que laia tu és
Mas não troco meu nome pela injusta bonança.