Vida de Torto
fui de teste
em teste,
procurando festa
nos bolsos
dos homens.
fui mal visto,
e celebrado
como
colossal
fariseu.
era o
Dedo de Agulha
que nascia
em meu
corpo,
fogoso,
ácido,
afugalhado.
fui ácido,
viseiro,
quase
insensível,
mas, quando
me vi
no espelho,
na volta,
já não mais
o plácido
e vesgueiro
homem,
me retirei
dos ponteiros
e fui marcar
as poucas
horas.
navegava em
duas tábuas,
refletia em
mim
o morno
insulso do
sol,
e a débil
lua
desanimada.
em meus
graves sonhos,
tidos
de meia-idade,
só vejo
os passos
dos que
foram
sem viver,
e os vigos
dos que
vivem
sem saber.
na festa
dos homens
mal-amados,
sou o mais
falido,
o mais tentado
a me fazer
agil
comandante
dos
desarmados.
e se o Dedo de Agulha
me fere,
fere a você
também.
tira e põe
e sai
fagulhas
de pão.
de leve,
somos todos
esperados,
somos plumas
que voam
pro amanhã,
sem saber
que dia é
de morrer
e prá sempre,
e dia de viver
é do agora, que
não cansa
de esperar,
igual à luvas
desesperadas
de preto.
e se você vive
no tempo
do Dedo de Agulha,
saia do fronte
porque,
bem lá tráz,
vem um
cajado de vento.
é a vida e a morte
de mãos dadas.
e viva você!
ria da vida
e chore na ida.
quem passou,
passou,
igual às,
ficou.
quem tem,
já perdeu.
quem é,
daqui há pouco
já não faz.
e,ao longe,
a morte
oca,
brinca
de cerejas
com a vida,
e a vida
vai iluminada
ancorar
em outro porto.
vida de torto,
pois no
Dedo de Agulha
todo mundo
peleja,sem
vela,
sem horto !