O Sarau que me é droga
Sarau e o sol lá se vai abaixando
Horizonte levando com ele a saudade
De outrora em que eu dizia estar amando
E se disse que amo, é que digo a verdade
E lembrei-me no sarau co'ela recitando
O poema em que em meu peito invade
Os prazeres d'alma e da carne lembrando
Dos passeios ao centro da cidade.
Eu te amo ainda, pensei ainda calado
E me ouviu o anjo da dor que me mata
Por mais que eu saiba, está tudo acabado
Outrora ainda rola uma lágrima insensata
E o sarau, meu recanto, meu amor sagrado
Dos poemas que ora me soam chibatas
O faço meu templo, onde penso calado
Eu te amo ainda, e isso ainda me mata.
Como algum destilado que me embebia
As frases lembravam-me de um tempo bom!
- Como se esse de agora não fosse alegria,
Não que não seja, mas faz falta o batom
Que se eu brincava que era-me agonia
Hoje eu assumo, eu amava o teu tom -
E então ao final de mais uma poesia
Rolava outra lágrima na ausência de som.
Um único elo desfaz toda a corrente
E você se pergunta porque aqui veio
No que eu respondo: pois fiques contente
Como outrora estive dormindo em teu seio
E se for pra lembrar dos segredos da gente
Que seja em versos sobre início e meio
Já que o fim do poema é criado na mente
De quem lê co’a alma limpa de receio.
Saber que no amor já é tudo normal
Ou deveria ser, pois se eu disse que amei
É que amei de verdade, um amor sem igual
Como versos perdidos que jamais escreverei
Mas não serei ausência de som no final
Pois do amor que há em mim, só eu mesmo sei
E chegada a minha vez neste lindo sarau
Só digo, tão simples: te amei e te amarei!