O CAFÉ RALO DA MANHÃ
Teve medo de se afastar,
junta ficou.
Pediu perdão sem sequer
pecar ou ter pecado.
As mulheres do dia são frágeis,
mas o medo de acordar sem ninguém
lhe fez, dignamente, recuar...
... sem enviar as malas ao destino.
Marialva
guarda o desatino das loucas
mulheres partidas por tanta solidão.
Teve um acesso de tosse,
junta calou.
Pediu perdão sem jamais
falar ou ter falado.
As mulheres da tarde são dóceis,
mas o medo do tempo, em rouquidão,
lhe fez, silenciosa, engasgar...
... com o grito entalado do pigarro.
Marialva
guarda, dormida, a voz das insones
mulheres tardias que custam a deitar.
Teve desejos impuros,
junta deitou.
Pediu licença às cobertas
para povoar a nudez.
As mulheres da noite são miragens,
mas o medo do corpo, feito do barro,
lhe fez submissa da costela...
... com o esperma bom para a pele.
Marialva
busca o afeto quieto das eternas
mulheres quando esfriadas no amor.
Amanhã,
Marialva voltará a arrumar as malas para fugir.
Mas desistirá de ir ao ver seu companheiro
comendo torradas, engolindo apressado
o café ralo da manhã, feito só para ele.