A INVEJA DA MATURIDADE

Nosso amor

foi consumido

na necessidade de matar

a fome que vaga no oco do estômago

Nosso amor

foi encontrado

na necessidade de explodir

a irresponsabilidade vã de mil paixões

Nosso amor

foi descoberto

na insistência de deschorar

a maturidade ausente daquela lágrima

Nosso amor

foi conquistado

na insistência de querer e querer

a quentura inconseqüente das cobertas.

No primeiro mês de amor,

convencionei, eu mesmo, escolher flores

No segundo mês de amor,

entregue, beijei sem mais pasta de dentes

No terceiro mês de amor,

calado, fiz a abstinência de voz ao telefone

No quarto mês de amor,

trancado, não mais deixei a casa bater portas.

Sem ponteiros rígidos,

sentados, em pé ou deitados,

sem calendários enrugando

por tanto amor consumado

transcendido do primeiro encontro,

escandalosamente escancarado,

sentiu-me arfar quase asmático.

Sem dia, mês ou ano,

na rede: vestido ou descoberto,

sem medo do calor ou do frio,

o tanto amor consumado

rangido pelo tempo em dobradiças,

despretensiosamente entrevado ,

sorriu-me qual um recém-nascido.

Ah, velho tempo invejoso!...