RETINAS PASSADIÇAS
(Torres, divisa com a bela Santa Catarina,
cenário diferenciado da costa marítima do Rio Grande)
Um rio serpenteia serras e baixios.
É o velho Mampituba, o rio dos botos,
reduto de molhes ventando sempre,
artéria viva de barcos e sol,
orgulho da pesca artesanal no Brasil Sul.
À noite, convivem os olhos vesgos
de maresia sobre torres de sinalização,
faróis dos automóveis e a luz dos postes
ao longo das margens de rio e povo.
Um pequenino barco cruza à frente
do pescador: o anzol a esmo
parece fisgar a fatia de lua
retratada no dorso das águas.
Acomodam-se pedras, algas e maresias.
Os olhos agradecem a beleza restada
nas retinas passadiças no Passo de Torres.
Há uma parceria de amor nas trilhas
de vidas simples e pele tostada.
Entre uma e outra lufada de vento,
bebe-se a vida em pequeninos goles.
– Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 89.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/144436