Crepúsculo

Todo dia quando se aproxima aquele momento

em que o horizonte,

no ponto mais alto de sua gula

e com a insaciável fome

já no comando das ações,

engole o sol ,

meus pensamentos vão escurecendo

na mesma proporção,

até que o sono convida a carcaça

para a trégua da noite – o longo descanso

que sempre regenera a força física

e precede o ponto de retomada das ações.

Geralmente quando chega essa nova hora

o sol , contrariado, também já foi acordado

retomando seu posto de comando

Quando bate o sino do intervalo ,

Convencionado para o meio dia ,

passo pela praça central ,

marca registrada da cidade pequena,

onde aqui na província

alguém imaginou ser o quartel

da fileira dos mais idosos

e foco minha atenção nos velhos

que ali postados contemplam o presente

divagando pelas folhas secas do passado.

Alguns de mãos dadas com a solidão

sentados de frente para a rua,

como que a clamar

– “ olhem para mim” ! .

Outros reunidos com seus irmãos de fios brancos,

Costas viradas para o movimento da rua

certamente rememorando velhos tempos

ou reclamando das novas modas.

E é assim , com esses retratos plasmados na mente ,

que vou para minha casa,

para sentado na varanda

contemplar o lento andar do crepúsculo ,

certo da necessidade da renovação,

Vergado pelas razões do tempo

mas assustado com o que fica para trás.