QUANDO TE CALAS

Ainda assim eu te ouço.

Quando não me dizes

da boca pra fora

o que pensas ou sentes,

Eu te ouço com meus olhos

e vejo tuas idéias,

tão nítidas,

em imagens digitais.

Eu te ouço com as narinas

e cheiro teus sentimentos

agridoces

como carambolas estreladas.

Eu te ouço com as mãos

quando acaricio teus pensamentos

rugosos,

ásperos como rami.

Eu te ouço com a língua

quando adentro a tua boca fria,

mole como gelatina sem sabor

e leio as palavras não ditas.

Se não falas e escondes

segredos,

despertas meus sentidos

e medos...

Se te calas

meus instintos se aguçam,

esmiuçam.

Uso de bruxedos...

Apreendo-te.

Surpreendo-te.

Quando te calas

é quando mais me falas.

Lina Meirelles

Rio, 17.02.09