PARTO
- uma fuga plural -
Vamos fugir a dois?...
Pois ir só, ou sozinhos, será tão desgastante
quanto tropeçar no tapete da sala escura, sem TV.
Precisaremos de carinhos para esticarmos as pernas.
Vamos fugir a dois?...
Pois seguir como monges será tão desumano
quanto a mesmice da roupa para ambos os sexos.
Precisaremos de frios para trocarmos calor de mangas.
Amanhã,
quando errantes voltarmos do pó,
a eternidade nos trará o amanhã
mesmo no apagar da luz antiga;
nós, encorajados com a ida,
plenos e reconhecidos,
seremos íntimos da luminosidade.
Sei que as lembranças ficarão nos álbuns da saudade,
nas fotografias dos fantasmas que, sem mim, colecionarias.
Sei que os pedidos ficarão guardados nas fitas do Bonfim,
nas histórias de reza e fé que, sem prece, jamais atenderias.
Sei que fugir não é só brincar de comunhão com o espaço.
Mas, voltar a dois, é pura rebeldia da causa por esse amor intenso
tão pretensioso e egoísta, do primeiro até o último momento,
tão auto-suficiente que até o reflexo dos casais, em par,
nos verão ausentes nos espelhos dos quartos solteiros.
Voltaremos sem achados. Mas povoaremos a solidão!.