LIMBO
Envoltos
em seus limites vesgos,
os enamorados nem se aperceberem
dos olhos de inveja na esquina,
os namorados, barulhentos de murmúrios,
são surdos ao som do desamor.
Todo amor,
quando sincero,
salta, a olhos vistos, além da beleza.
Envoltos
em seus limites poucos,
os enamorados guardam a amplidão
universal de só dois corpos,
os namorados, o reflexo do par completo,
espelham-se na luz de Narciso.
Todo amor,
quando completo,
capricha no detalhe da delicadeza.
As fotos de artistas nas bancas,
chamarão a atenção
querendo um estiver no outro
para ser destaque na próxima edição.
A promoção do motel no cartaz,
aguçará a imaginação
de como o amor ganhará um ato
distante da sala onde mora a televisão.
As comidinhas de gosto comum,
despertarão só um paladar
salivando o gosto mais confesso
onde em mercado algum do mundo achará.
A paisagem, que revela o fim do dia,
mostrará o sol fechando os olhos
enquanto as máquinas fotográficas
registrarão beijos nossos em só um cartão-postal.
Envoltos
num despertar devasso
os enamorados se querem insones
com o amor de agora e ontem,
os namorados nus, juntos e desajeitados,
vestem a farsa da mediocridade.
Todo amor,
quando acorda junto,
arruma a fronha para ficar o cheiro.
Amanhã, o novo contrato
de aluguel será assinado,
pagaremos pouco aos muitos
sonhos, no ovo desse apartamento.
Amanhã, desse quatro bocas,
será quitada a última prestação,
as compras do mercado crescerão
assim como o jeito de nos alimentar.
Amanhã, no nosso canto criado,
o pedreiro porá a mão na massa,
os alicerces fortalecerão as raízes
quadradas dos metros vãos do espaço.
Amanhã cuidaremos do amanhã,
assinaremos o plano, lado a lado,
como quem cuida do corpo descuidado
para a saúde da alma numa emergência.
Envoltos,
num tempo presente,
os enamorados, despreocupados,
confundirão rotina com dia a dia,
mas jamais, enquanto namorados,
misturarão eternidade com amanhã.
O amor,
quando bem sentido,
será intocado no presente ou no futuro.
O amor não terá pressa de conviver com a eternidade!