AUSÊNCIA CONDICIONAAL
Se eu te perder
me entregue os dedos,
os anéis, os sonhos, os medos,
tranques o cadeado das mãos
reveles todos os pesadelos
das pálpebras dementes
da cortina rasgada.
O chão,
na precocidade do lençol molhado,
saberá que no último encontro marcado
a hora do choro ficará registrada na parede
onde cucos e fantasmas, em branco e sonoros,
invadirão o quarto pela fresta da porta empenada.
Se eu te perder,
me devolva esse olhar,
essa pérola, esse imã, esse afã,
feches o cadeado das lentes
reveles a fresta escura
pela vista apagada.
Despida,
as roupas, no armário rangido,
mostram todas suas formas de frio
num pijama com furos e bocas de traça
guardado na última gaveta da primeira idade
quando os afetos lotavam carinhos e prateleiras.
E, sem mais aonde procurar,
encontrarás quieta a minha inocência
na escuridão dos meus pelos pubianos e virgens,
onde dormirás e acordarás, se tua ausência não crescer!