Pai e Filho

Poema inspirado em duas personagens do livro de Aquilino Ribeiro " Terras do Demo".

Meu pai dê-me uns vinte alqueires de pão
Ando trabucar pró ano ter cabonde
Lavro como mouro, hei-de ter bom grão
Empreste-me, venda-me, que responde?

Cuidas que te sustento a familagem?
Casaste com a fome linda, pirangão!
A minha casa não é estalagem
Tens fome vai roubar, filho dum cão.

Casei-me. O que está feito, feito está
Tenho mulher, sogra e o irmão dela
Empreste o pão, não se arrependerá
Para a sua fortuna é bagatela.

Tens vinte centos de mil réis no papo
Que gastei a fazer de ti estudante,
Larápio, bajoujo, humano farrapo!
Querias bagalhoça, que desplante!

Unhas-de-fome, judeu de uma fona
Pensa que o leva todo pró inferno?
Que lhe dê uma febre nessa mona
E vá pró purgatório sempiterno!






AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 16/02/2009
Reeditado em 26/03/2009
Código do texto: T1442252
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