O livro dos sonhos
E Josafá pegava alfaces,
enquanto Cristo sambava
nos azulejos da varanda.
Dorotéia passeava
na soleira dos desertos.
E, na lagoa, os sapos arrotavam
o deglutir dos insetos.
Piscavam olhos,
bundas e vagalumes.
Sentava a cigana no estrume
dos tapetes de pasto róseo.
Folhas secas de Sabá;
boceta seca de oliva.
Cego o olho
e o tempo me criva.
Satã me dá um toque
e a lembrança me falha.
Ora, Judas que o diga!
[De perdão se fartou,
no suicídio acertado.]
As mãos cálidas de Jesus
e as mãos de Ananias
se alinham e se emparelham
por divinas coisas ditas.
Samba, Cristo, samba!
Pois a ‘Lena já vem vindo.
Cai o espelho
e rasga o livro.
Vai além do Deus
que pode haver
no coração, a quem
sacie uma esperança milagrosa.
Tudo em sombras,
versículos e letras.
Tudo em tal palavra branda
sem acertos ou limites.
Semeia o campo,
a mente escrota.
Faz crescer ervas perfumantes,
marginalmente, no lago do saber.
Todavia, nada é escuro
e, agora, eu vejo.
Vejo o erro que
cometi por querer troféus.
Pequei por aguçar
coisas que não passam da terra;
que ficam
e corrompem outrem.
Salve o uso do escracho!
Viva o gosto da mentira!
Comamos mais galinhas,
pois já é hora do galo cantar.
(Um fino, por favor)