O POETA QUE EU QUIS SER
O POETA QUE EU QUIS SER
Quando menino, tive meus brinquedos
E deles fiz rosários de saudade.
A ti, meu pai, eu disse os meus segredos ...
Promessas fiz, brincando de verdade.
Eu te prometo, pai, que vou vencer.
Quero partir em busca da aventura,
Quero lutar, ser humilde, sofrer,
Quero sorrir e chorar de ventura.
Quero sentir na face o vento frio
E agasalhar meu peito amargurado.
Quero guardar, no coração vazio,
Toda saudade que tenho chorado.
Quero que todos se lembrem de mim
Quando o poeta não mais escrever
Quero que todos lamentem meu fim
Quando no eterno sono adormecer.
Olha, meu pai, olha que todo mundo
Já se levanta pra me ver passar.
Ergueu-se o rei, curvou-se o vagabundo
Todos humildes para me saudar.
E vou sorrindo meu pai, meu amigo,
Buscando um sonho nunca imaginado.
Nunca irei só, sei que estarás comigo.
Por toda a vida estarás ao meu lado.
Confio em ti és sábio e poderoso -
E nunca o medo poderei sentir.
Confio em ti, porque és justo e bondoso,
E lado a lado iremos prosseguir ...
Meu pobre pai ... tanto fiz que o destino
Que desde a infância conduziu meus passos,
Cansou de mim, deste pobre menino
E revelou ao mundo os meus fracassos.
Veio a amargura, quase de repente
E o sonhador também não resistiu.
Perdão, meu pai, mas o teu filho mente,
O grande artista jamais existiu!
João Bosco Costa Marques.