Banzo

Queria dar nome a esse banzo

que me chega de não sei onde.

Não sou negro escravo;

sou branco cativo,

ausente de motivo.

Ditam-me Leis e Decretos

e desvendam meus sonhos secretos.

Com gestos discretos

apago seus angulos retos

e tento seguir.

Mas é como viver num salão

onde todos me apontarão.

De mim, dizem, que não entendem

esse gosto de isolamento,

esse jeito pernóstico,

esse descrer agnóstico.

Seria bom ser Poeta.

Ter poética licença

para triste ficar.

Horroriza-me o dever

de alegre estar.

Poética licença de só sentir.

De, quem sabe?, só existir

e, disso, poder rir.

Poder ir

(mas para onde, José?*).

Não importa.

Só ir.

* do poema "José" de Carlos Drumonnd de Andrade.