Carnaval
"A vida me exige uma alegria que já não tenho", disse o Gari.
O Guru me taxa de deprimido.
O jovem idealista, de oprimido.
O irreverente, de bagaço espremido.
Sou tudo isso.
Malaco de cortiço,
nó cego e corrediço.
Cuspo na vida
só para lhe ver caída.
Quantos porres já tomei?
Nem eu sei.
Sou o banzo do negro distante,
a soberba do dandi petulante
e a paranóia do eu delirante.
E logo virá o Carnaval.
Nuas negras sobejas
afrontarão vestutas igrejas;
e que assim seja:
herdeiras de D. Beja.
A branca coquete
murmura em falsete
e tudo se repete
entre coxas e confete.
Que haja lirismo.
Que haja hedonismo.
Que haja fornicação;
matriz desse Mundo-Cão
que dança para a televisão.