A CARNE E A ALMA
A faca corta a carne
A fresta viva abre
E vaza junto ao sangue,
A alma sofrida.
A dor da alma,
Lancinante,
É mais forte
Que a dor da carne
Quase morta.
A dor da porta aberta
A fuga da esperança
Toda a lembrança
Algoz e ardida
Rompe a ferida
A carne sofre imediata
No tempo do tempo
A alma? Por toda a vida
Pois cicatrizada a chaga
Da faca faminta
Resta o corte d’alma
Que nunca sara
Só adormece, hiberna;
Vive e revive
Em sobressaltos
De ilusões furtivas
Nas noites frias
De solidão cativa.