RisO
Riso, que Tu não me falte
No fim de tarde
Que arde agora
Lá fora.
Venha e faça morada na sorte
Não deixe aquela
Corroer-me como um pote
De mel em formigas
Vermelhas.
Riso, que Tu sejas amigo,
Não uma canção afinada,
Um barulho de carro
Ou disco arranhado
E torto.
Que Tu sejas vinho
De uva rara, de raro gosto
Mas que existas, viu?
(e seja barato, que é pra eu comprar sem pensar nessa crise).
Riso, que Tu sejas os dentes
Desse velho banguela e carente
Que planta árvores
Enquanto é colhido
Em palavras...
E que não falte
Como falta agora quem tanto amei.
Seja este silêncio perene,
Este gesto impensado,
Esta caneta que corre...
Seja a pele-celulose que sente agora
Os sentidos que são meus
E que Tu, oh vadia-másculo,
Roubará-me...
Em poucos.