MORTE EM PRETO E BRANCO
Era noite, e a branca espuma das ondas
ontrastava com
a escuridão...
Enfiou o rabo entre as pernas
praguejou até doer a garganta
depois olhou para longe como
quem procura alguma coisa
e tropeçou na vontade de
ter sido outro em outra vida...
seu lábio inferior tremeu um pouco
as mãos se moveram a esmo em
redemoinhos e voltaram a aquietar-se
enquanto os pés arrastavam-se
fazendo sulcos na areia grossa
da praia úmida depois da chuva.
Havia dentro dele uma criança intacta
um jovem sorridente em noites desatentas
havia nas suas faces lembranças de mãos carinhosas
em seus olhos miradas em horizontes abertos
e dos sonhos que sonhara como todo mundo
restavam vislumbres como retalhos
descosturados na memória
velha carcassa estremecida em tantos embates
era agora apenas castelo em ruínas
com seus fantasmas ...
Então subitamente parou, ergueu os braços
e desabou como um velho tronco
e as estrelas brilhavam impávidas
e testemunhas de um naufrágio
há muito anunciado no desvario
daquele que agora ali restava , enfim sereno
matéria inerte, folha solta na enxurrada
animal descendo a correnteza nas enchentes
papel picado caindo das janelas do edifício.
E o ruído das ondas quebrando na praia
seus restos envolvidos pela água deslizante
em derradeiro abraço...
era uma escura noite
com brancas ondas...