MORTE EM PRETO E BRANCO

Era noite, e a branca espuma das ondas

ontrastava com

a escuridão...

Enfiou o rabo entre as pernas

praguejou até doer a garganta

depois olhou para longe como

quem procura alguma coisa

e tropeçou na vontade de

ter sido outro em outra vida...

seu lábio inferior tremeu um pouco

as mãos se moveram a esmo em

redemoinhos e voltaram a aquietar-se

enquanto os pés arrastavam-se

fazendo sulcos na areia grossa

da praia úmida depois da chuva.

Havia dentro dele uma criança intacta

um jovem sorridente em noites desatentas

havia nas suas faces lembranças de mãos carinhosas

em seus olhos miradas em horizontes abertos

e dos sonhos que sonhara como todo mundo

restavam vislumbres como retalhos

descosturados na memória

velha carcassa estremecida em tantos embates

era agora apenas castelo em ruínas

com seus fantasmas ...

Então subitamente parou, ergueu os braços

e desabou como um velho tronco

e as estrelas brilhavam impávidas

e testemunhas de um naufrágio

há muito anunciado no desvario

daquele que agora ali restava , enfim sereno

matéria inerte, folha solta na enxurrada

animal descendo a correnteza nas enchentes

papel picado caindo das janelas do edifício.

E o ruído das ondas quebrando na praia

seus restos envolvidos pela água deslizante

em derradeiro abraço...

era uma escura noite

com brancas ondas...

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 13/02/2009
Reeditado em 22/05/2011
Código do texto: T1437134
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.