A barca fez-se ao mar
 
Numa arca esculpida fechei a minha alma.
Juntei tudo o que havia, que era parte de mim.
As minhas ansiedades, as dores, os segredos,
os amigos que já não eram e, os meus desvelos.
Os amores extraviados ou nunca achados.
As partilhas da vida, que foram desfeitas.
As lágrimas vertidas, por tantos cansaços.
As dores lancinantes, dos erros e fracassos
As minhas alegrias tornadas tristezas.
As minhas defesas de guerreira desarmada.
As minhas ilusões fantasmas errantes.
Os meus desejos já tão abatidos.
A minha chama, que perdeu a ardência.
E todo o meu âmago, que deixou de o ser.
E tudo o que em mim já perdera a cadência.
As minhas solidões, recolhimentos sentidos
As minhas saudades a  pesarem magoadas
 
Engalanada uma barca com archotes ardentes
À beira da praia, baloiçava ao sabor da corrente.
Depositei nela a arca com os trastes que juntei.
A noite era linda num claro azulado luar.
As estrelas luzentes testemunhas caladas
Descalça, na praia chapinhava o areal molhado.
Uma vaga arrastou a barca que se fez ao mar.
Na minha fronte molhada, lágrimas escorriam
O coração batia forte em descompasso.
Parecia querer desentranhar de mim.
Desnudada senti então frio e, era estio.
Numa aragem estranha que me revestiu.
Senti-me tão leve e tão libertada
A barca afastava-se, levada na maré.
Nela ia tudo o que fizera parte de mim
O silêncio caiu na praia deserta.
E aos sombreados da noite eu me entreguei
De tta
2009-02-13
 
 
Tetita ou Té
Enviado por Tetita ou Té em 13/02/2009
Reeditado em 18/02/2009
Código do texto: T1436952
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