Desabafo
Sou um homem que mal aprendi a falar
Não sou letrado como doutor.
Mas sou esperto,
A vida assim me ensinou.
Não uso sapatos nem roupas finas,
Só ando com os pés no chão.
Mas sou feliz assim.
Não me preocupo com inveja.
Invejar o que?
Só se for a terra batida nos pés,
Ou dos calos da mão,
Que deixei no cabo da enxada no roçado.
Quando durmo adormeço realmente.
Não devo nada a ninguém.
Vivo em meu paraíso,
Sem riquezas naturais nas mãos.
Mas a riqueza que aqui tenho
Não encontrarei em lugar algum,
É uma riqueza completa e viva,
Feita pela mãe natureza,
Que mostra sua real beleza
Nesse pedaço de chão.
Vivo pelos campos livre como um pássaro.
Corro pulo, posso até nadar.
Sinto tudo o que Deus me deu.
Minhas mãos podem endurecer em calos,
Pode o calor surrar minha pele,
Mas aqui é o começo do paraíso.
Só acabará se eu cruzar meus braços,
Coisa que não farei jamais.
Desculpe meu desabafo,
Sinto forçado a entregar-me,
À vida da cidade
E assim perder a vida pura e livre.
Choro essa angustia
Que me fere no fundo da alma.
Minha esperança é que Deus
Olhe para o homem do campo,
Que vive com os pés no chão,
Lutando por sua existência
E a de toda população.
Dalmo 16 de maio de 1994.