Feitiço...

Os teus olhos guardam o feitiço

que deixa o meu corpo mortiço

e o meu sangue em ebulição...

Tens-me na palma da mão

e disso fazes alarde

pois ris da minha paixão

e torturas-me até ser tarde...

Sou teu sem seres minha

sou como o sol, condenado

a nascer de manhãzinha

para no ocaso morrer afogado...

Estás aí mas nunca presente

és tão fugidía como a luz

és um silêncio eloquente

que entretanto me seduz...

Não me imagino sem este viver

não vejo outro caminho a trilhar

não quero o teu feitiço perder

nem sentir esta paixão definhar...

É esta a mágica que nos solda

usando para tal, o nosso suor

e é o nosso cansaço que molda

deste amor a parte melhor...

No teu sorriso vejo ainda ilusão

no teu corpo sinto ainda arrepio

na tua carne pulsa ainda o tesão

que me deixa a respiração por um fio...

Adoro consumar-me quando te consumas

adoro chegar junto com a tua chegada

e ficar com o olhar turvado pelas brumas

da cegueira efémera por esta cavalgada...

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 11/02/2009
Reeditado em 21/08/2012
Código do texto: T1434002
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