O BANCO DO JARDIM
O BANCO DE JARDIM
Num banco de jardim, tudo acontece!
Nós, os mais cansados, desgastados pelo tempo inexorável, nele nos acomodamos, à espera do nada que o amanhã sempre nos promete.
E ali, perante nós, desfilam sonhos frustrados, saudade da infância distante, expectativa de uma vida tranqüila que nunca conseguimos alcançar.
O banco de jardim... Esse permanece indiferente. Afinal, são tantos os desenganos que viu passar... Um a mais, um a menos, não podem macular a frieza da laje esculpida.
Mas, e os jovens? Esses não! Eles representam um outro grupo étnico, bem diferente daquele representado por nós, veteranos da luta pela sobrevivência digna.
Os jovens passam por nós, indiferentes, sacudindo suas longas melenas, ou exibindo uma cabeça raspada pelo modismo cruel, ostentando penduricalhos que antes só percebíamos em películas cinematográficas que os monstros sagrados de Hollywood criaram para nosso entretenimento. E esse entretenimento, consciente e sutil, mascara nosso tédio.
Os jovens passam por nós e nem sequer notam nossa presença. Seguem indiferentes aos ditames do futuro que lhes foi traçado, desdenhando, talvez, de nossa debilitada condição física, reflexo de muita intempérie emocional.
E nós? Nós bem que tentamos despertar-lhes a atenção, acenando-lhes com a candura de nossos cabelos brancos, invejosos que somos de tanto vigor físico. Ah! Quanta saudade...
Mas, e o nosso banco de jardim? Ele é o personagem central desta farsa. Mas ele é frio, insensível, porque assim o fizeram e não lhe permitiram escolha. Perante ele desfilam tantas desilusões que, talvez - mesmo que pudesse - não lhe interessasse participar delas.
O banco de jardim é frio...
Frio e feliz!
João Bosco