Momento do Tempo

Era um momento de três

três refrescos,

três luas

e três saias.

Era um tempo antigo

parente e amigo.

Era mil e novecentos,

tempo que algum dia viveu

entrelaçado entre nós,

mas com o tempo

deixou-se transparecer.

Frágil e armado de cristal.

Foram três momentos

de sufragar o alento,

a meiguice e o amor.

E como dói os amores

marcados por datas e

folhinhas de padarias!

Foram três momentos

duas vidas

e um amor.

A média resultava,

impassível, numa paixão

onde melros e orquídeas

se transformavam em

paisagens mágicas e queridas.

E foi assim,

sob a lua de alguma primavera

que ninguém esquece mais.

Que duvidem os incautos de paixões!

Eu ouvia, ela ouvia.

Nós falávamos e éramos

regidos por algo

além do mero tempo,

colocado no topo de um palco,

onde luzes refletiam estrelas

e nada mais do que ter chegado

no fim do mundo de luzes.

E mil novecentos passou.

E ela se foi.

E eu fiquei atônito.

Ela não marcava datas

e eu contava o tempo.

Assim, sem sol naquele dia,

áspero de grandeza e maledicência,

do céu avulso e sem

estrelas,

ela partiu.

Deixou um recado.

Tão a tôa e tão sentido.

Hoje quando lembro de

mil e novecentos,

lembro dela.

De blusa de cachemira vermelha

e pedindo em juras eternas:

não me deixe ir!

E o tempo a levou para sempre.

Eu, teimoso e feito de bula,

agora me arrependo.

Da única coisa de ter tido

naquele século de mil e nocentos

uma grata mulher de olhos

meigos.

E ter deixado ela partir

para dentro de outro mundo,

que costumamos chamar também de

descanso eterno!

José Kappel
Enviado por José Kappel em 22/04/2006
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