CERTIFICADO

Amada de tantos medos,

hoje,

sem mais temor algum dos meus segredos,

conscientizei-me:

posso casar!

nada entre nós está declarado

no meu imposto de renda:

nem anéis, nem papéis, nem aluguéis...

mesmo isento,

sinto que está tudo mudado

[do beijo mais completo ao mais simples orgasmo]

desde quando a minha consciência

aprovou o certificado.

ah minha cúmplice de tantos medos,

preciso guardar velhos segredos

para gastá-los à vontade

[sem medo]

só quando a separação se torne e tome vulto

[depois e fatal]

a encobrir novos lençóis sobre os casais

sem a menor cerimônia

[a provocar]

beijos incompletos e orgasmos por demais estranhos.

Amada de tantos medos,

hoje,

sem temor de nada mais que venha pela frente,

não te escondo:

posso casar!

a nossa perspectiva de união – sei – ficará mais tênue

quando te apresentar o certificado

outorgado pela consciência:

“Pode casar!”

daí para a separação, cúmplice de tantos medos

será só um curto, um curtíssimo passo.