CANTO HONDO*
Amanheceu.
Abri as cortinas
e a janela.
A noite entrou.
Só, vagueei
entre brumas densas.
Avancei
para dentro, para o fundo.
Tateei em outro mundo.
As sombras me tocaram
com seus dedos de veludo
e delicadeza de anjos tímidos.
Perdi meus medos.
Na certeza do caminho,
um galhinho quebrado aqui,
um seixo úmido virado ali...
cheguei bem perto
da cabal profundeza.
Na penumbra, vislumbrei
ao fim um espectro radial.
Envolta em véus,
flutuando nos céus,
lá estava a Liberdade
esperando por mim.
Lina Meirelles
Rio, 07.02.09
*hondo= profundo