A COR DO ÓDIO

Na curva

Da fuga do diálogo

Eu vi a cor do ódio

– Era castanho-claro/escuro

Ou cinza, preto, verde, azulado...

Havia um brilho ofuscante

Explosivo e mortífero.

Havia um desejo de morte

Como um fio de navalha

Em direção aos meus olhos.

Vi as marcas

De um ódio adulto

Recalcado

Sublimado

Escamoteado

Guardado a sete chaves

Mas mantido vivo

À custa de um prazer

Mórbido de vingança

E auto-imolação.

Senti despejado sobre mim

O ódio a quem desamou

Humilhou e espezinhou

Aquela fonte de rancores

Como se fora eu o autor

Dos abusos e do desamor.

Caiu sobre mim

Como se eu culpado fosse

Um ódio estilhaçante

Ferino como agulhas esvoaçantes

Num temporal

Em noite escura

Riscada de cortantes relâmpagos.

Eu vi a cor do ódio

Que não era de mim

Mas que me transformara

Naquele instante

No representante do seu objeto.