Confiteor
Desconheço e não me engano,
as profundezas do oceano;
ainda não desvendei minha face
no espelho da água que nasce.
Não compreendo o poder
do sol que vem me aquecer,
nem a lua consigo sentir
e por ela me deixar seduzir.
Confesso com pesar,
nem mesmo sei decifrar
a melodia do vento cantante
que dobra a relva dançante.
Por fim, estou convicto
e reconheço, constrito,
não tenho o dom da oração,
sou infiel em qualquer religião.
Se de tudo isso soubesse
e o mais que ainda houvesse,
amaria desbragadamente
e nem uma pequenina semente
do universo, num infinito enlace,
haveria que não me entregasse.
Mesmo assim, sei com certeza,
minha mestra é a natureza,
fonte de toda inspiração,
minha divina canção.
Brasília, 26 de maio de 2002