POEMA ANTIGO
Tem a noite, a cama, o ar condicionado,
o conforto do quarto,
mas eu só quero os cigarros,
o desabafo no papel
e as lágrimas de vinagre.
Tem a noite, a lua e seu luar,
o violão guardado sem usar,
a televisão, os livros...
tem até a rua e a vontade de andar,
mas não posso sair
porque estou nua.
Mãos sem movimentos para tocar,
o resto, sem atrativos
aos meus sentidos.
E eu, durante o dia,
me disfarço e rio,
até faço graça
e digo a mim, no espelho:
"Deixa, que isso passa..."
Uma lágrima escorre
para dentro dos olhos.
Eu sufoco a mágoa
que me morde o peito,
na marca dos dentes,
me enterro inteira,
me sepulto viva
no fundo do peito,
e me escondo sempre,
muito sem-vergonha!
Já sou velha e feia
e ninguém descobriu.
* este poema é tão antigo, estava perdido...deve ter mais de 20 anos.