Absinto
Quero tanto o aroma dessa flor
que me embriaga
e dela quero ainda a dor
que meu peito afaga.
Sou assim de espera
e fera e acuado.
Sou fado feito samba
e nada.
Meu desejo é cirandar enganos,
tingir matizes, amar raízes
e ser do sal, o gosto e o pecado.
E assim posto procuro o cais
para ancorar meu barco
e volto ainda ao fim,
que do princípio ando ao meio.
Desejo mesmo a flor e, do seu cheiro,
o bem que me fizer bem mais inteiro.
E, no final desse crepúsculo,
terei o lusco-fusco para enfim te embriagar
e ainda outras ervas quero e vou colher,
pois, no fim, bem sei o aroma que virá
e a bebida que vou tomar.
Ando delirando essências!