Bealtice
É o fim
de tudo o que sonhei.
São as transas
de todas que olhei.
É a perda
de toda beleza.
É o encontro
de minha poesia.
Morta no canto
das musas que não ouvi.
Deitada sobre a calçada
que construí.
Com minhas mãos sangrentas
aprendi a viver em mim.
Com tua dor e escárnio
aprendi a me defender.
O mundo que me cerca
é o mesmo que te cega.
Os ares que me levam
são os mesmos que te secam.
São chuva
minhas lágrimas.
É inverno
nosso olhar.
No inferno,
encontro-te junto
a meus medos.
Ao diabo digo olá
e em ti escondo de deus
os meus segredos.
Porque a vida me parece,
no encanto que padece
sob tuas longas preces,
ordinária a quem merece.
Hoje sinto.
É quase um novo dia.
Cinco horas,
sol nasce e erradia.
Surge a luz de Apollo
a nos guiar.
Surge entre serras,
primaveras...
em olhos tão
cansados e soturnos
como os meus.
É hora que se faça
o oposto de Rá.
O sentido e crueza
da maldade
se esvaem em negras pétalas
das cálidas rosas
que brotam em nossos corações.
Ó, Bealtice de asfaltos,
salva-me da putaria oligárquica!
Arremessa-me no jardim
de vidros e espinhos;
sem flores ou caminhadas.
Noite ou sono,
que agora espero o dia
e as idiossincrasias
mais sonoras
de meus dentes
mais rangentes.
Estou a renascer.
De volta à vida.
Pintada de mentiras
necessárias e dispersas
pelas verdades,
criadas de outrem.
Ora,
que o que mais quero
agora
é sambar no carnaval
escaldante e melancólico.
Destoar os tambores
e sabores
das mulatas que
estão por qualquer alegria.
Um brinde à Morte!
Um salto da vida.