Bealtice

É o fim

de tudo o que sonhei.

São as transas

de todas que olhei.

É a perda

de toda beleza.

É o encontro

de minha poesia.

Morta no canto

das musas que não ouvi.

Deitada sobre a calçada

que construí.

Com minhas mãos sangrentas

aprendi a viver em mim.

Com tua dor e escárnio

aprendi a me defender.

O mundo que me cerca

é o mesmo que te cega.

Os ares que me levam

são os mesmos que te secam.

São chuva

minhas lágrimas.

É inverno

nosso olhar.

No inferno,

encontro-te junto

a meus medos.

Ao diabo digo olá

e em ti escondo de deus

os meus segredos.

Porque a vida me parece,

no encanto que padece

sob tuas longas preces,

ordinária a quem merece.

Hoje sinto.

É quase um novo dia.

Cinco horas,

sol nasce e erradia.

Surge a luz de Apollo

a nos guiar.

Surge entre serras,

primaveras...

em olhos tão

cansados e soturnos

como os meus.

É hora que se faça

o oposto de Rá.

O sentido e crueza

da maldade

se esvaem em negras pétalas

das cálidas rosas

que brotam em nossos corações.

Ó, Bealtice de asfaltos,

salva-me da putaria oligárquica!

Arremessa-me no jardim

de vidros e espinhos;

sem flores ou caminhadas.

Noite ou sono,

que agora espero o dia

e as idiossincrasias

mais sonoras

de meus dentes

mais rangentes.

Estou a renascer.

De volta à vida.

Pintada de mentiras

necessárias e dispersas

pelas verdades,

criadas de outrem.

Ora,

que o que mais quero

agora

é sambar no carnaval

escaldante e melancólico.

Destoar os tambores

e sabores

das mulatas que

estão por qualquer alegria.

Um brinde à Morte!

Um salto da vida.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 04/02/2009
Código do texto: T1421779
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.