Ciclos
Quando o Criador
compôs o mundo,
um ou mais universos
em menos de um segundo,
o fez em prosa e versos,
imagens multisensoriais,
marcadas pelas redondilhas
de Suas digitais:
os ciclos naturais.
Se dermos a atenção devida
aos suspiros das rochas,
à dureza da vida,
notaremos a constância,
fluência e redundância
dos ciclos, tão normais.
Nas órbitas celestiais,
nas equações fractais,
que regem tanto a ordem
como o caos,
nas sinfonias matemáticas,
biológicas, musicais,
que por toda a natureza
deixam seus sinais.
Ciclos característicos
que mostram a alternância
da luz e da sombra,
do frio e do calor,
dos jovens guerreiros sangrentos
e dos velhos pensadores místicos,
das ondas infindas do mar,
indo e vindo sem parar,
das rotas aleatórias dos ventos
carregando nuvens de metano ou vapor,
trazendo chuva, levando o pavor,
das geleiras glaciais da indiferença
e dos desertos abrasadores do amor,
que emolduram nossos karmas,
nossas vidas sem finais.
Circulares, métricos, previsíveis,
irregulares, tétricos, invisíveis,
parabólicos, senoidais,
estrambólicos, desiguais,
ciclos só têm em comum
o fato de serem cíclicos,
além de irônicos e cínicos.
E, claro,
repetitivos,
repetitivos,
repetitivos...
Início,
geração aparente do nada;
Crescimento,
gestação no ambiente formada;
Ápice,
êxtase orgásmico impudico;
Decaimento,
decaída, relaxamento, saída;
Fim,
assim, enfim, mentiram para mim,
Reinício,
o eterno reviver, voltar, refazer...