INDAGAÇÕES
Como o poeta,
ao morrer,
definiria o ato?
Seria
com os mesmos tropeços
que, em vida,
definira o viver?
Como seríamos,
nós outros,
que nem sofremos
de alucinações de ternura
e nem calçamos
os mesmos sapatos?
Poderíamos nos expressar
ante tamanha falta?
Porque carecemos tudo:
da mortalha
de nossos sonhos
de infância
e da solidão dos bosques.
Seríamos como crianças,
entre blocos concretos
de cristal e asfalto?
Responda-me, contudo,
qual seria a emoção
mais leve que a pluma
e mais firme que a mão
que não pendeu do abraço?
Por que, Deus meu,
encarcerar-nos
a nós humanos,
no cerco
das palavras,
se vasto é o sentimento e vaza
através da terra
em seus hemisférios perdidos,
entre sal e pecado?