EXTREMOS
Ah, a força que tens!
Fora de mim, tu me apareces
em forma de mágoa, dor,
decepção, desamor.
Dentro de mim
és revolta e desejo,
vulcão e prado em flor,
lago manso e sereno,
ao mesmo tempo
mar revolto e assustador.
Não sei se por covardia,
ou por puro recato,
me invades quando, indefesa,
me entrego ao sono,
no escuro de meu quarto.
O que tu fazes não parece sonho,
é fantasia, ou mais que fantasia,
pois que, ao despertar,
sinto ainda teu cheiro,
vendo teu vulto se afastar,
tranqüilo e sem alarde.
É alegria e sofrimento
o que depois me encanta,
queima, arde.
Acordada, vigilante,
tento te evitar.
Mesmo assim me surpreendes
ocupando meu pensamento,
tentando perturbar tudo o que faço,
atravessando meu caminho,
confundindo meus passos,
tirando meu juízo,
transformando em esgar o meu sorriso.
Tua incoerência me espanta.
Mas me contenta saber,
que por maior que seja o teu poder,
e a tua força tanta,
não podes me obrigar a te esquecer
e a te sentir enroscado na garganta...
Ah, a força que me dás!