CHUVA E LÁGRIMAS
Algumas gotas de chuva
caíram, ontem e hoje.
Tiveram o sabor e o aroma
de um fino licor.
Gotas, quando caem,
penetram o seio da terra.
Fazem lembrar dos amores
e de suas lágrimas.
Quando caíam, atingiam
a nossa alma.
Como a chuva, liberavam
estranhos aromas.
Aromas que até então
não distinguimos.
Apenas persistem impregnar
saudosas lembranças.
Lembranças e aromas confundem
amores e ventres.
Nascemos de cios e crescemos
cheirando suas essências.
Fossem eles frascos de licores
e perfumes exóticos
de cujas gotas nos embriagamos
liberando desejos.
Vivemos viciados em aromas
estranhamente contidos.
Provamos sabores, entramos em cio
voltamos ao ventre.
Deitamos em colos, cheiramos úteros
como a terra cheira a chuva
que germina a semente, flore a dália
e aveluda as pétalas
que atraem as abelhas, dá-nos o mel
como o amor dá-nos a vida.
Pois quem de amor
um dia se embriagou,
quando chove entra em cio
e sente aromas de ventres.