Versos Verdes Fritos

(ou Verso em vinha d´alho)

© Soaroir 25/1/09

Entra na panela uma pitada de pimenta e sal

enquanto engrossa o molho eu refogo um verso;

desgrudo do fundo com uma colher de pau

o consolado alimento ensopado na garganta.

Talhadas a cutelo as desossadas vísceras

me berram do alguidar como se poetas fossem

a acrescentar ao caldo da molheira alfaiada

rimas marinadas em especiarias finas.

Benigna resiliência em salmoura conservada.

Condimentada nutrição do espírito e alma

descongelada levo ao fogo de um fogão

e ante aos perfumados vapores me ergo boquiaberta.

Sobre a mesa estico as rendas da Madeira (¹)

alinho os pratos e acimo as taças cheias

Num discreto gesto temperado ao alho e óleo

eu saúdo o bardo que povoa a minha cabeceira.

(¹) Ilha da Madeira