POR UM LINDO COLAR DE ESTRELAS

Aquele relógio me diz ser muito tarde

apenas que eu queria emprestar cinco estrelas

e pendurá-las ao pescoço

mas veio uma chuva forte e elas não caíram

ninguém voa com as asas molhadas

queria ficar mais bonito usando estrelas

diante meus olhos já úmidos

de tanto esperar

tomo três copos de leite e mel

e mexo nos pés de Dionisos

ele ronca muito alto e não acorda

só por brincadeira enrolo heras nos espaldar da sua cama

ele então acorda.

Grita comigo.

Não compreendo o seu grego

e ele não pisa nas plantas:

pega seu travesseiro e vai dormir noutro lugar.

Sabe-se lá onde.

Mastigo novamente minha solidão

provocada de memórias vadias

ficar só é bom apenas no meio da multidão

mas agora já a madrugada é moça

e quem conheço descansa angelical.

Aguardo com tanta ânsia parar a tempestade

que posto meus vasos onde possam se divertir de brincar com as gotas pesadas.

O mundo tem girado bobo demais

até ele tem pressa pra chegar

não sei onde

concluo que deve ser onde Dionisos foi ter com seus roncos.

Ando em círculos e bem sei que meus chinelos são barulhentos

ouve-se tudo nestas casas geminadas,

não se tem privacidade em lugar nenhum depois que inventaram as cidades

ninguém reclamou

ninguém me ouviu

ninguém me deu atenção

quatro voltas e já me desinteresso

desisto: ninguém reclama!

E aquele relógio berra minha solidão

quero estrelas pra ficar mais bonito

e ter com quem conversar de corpo enterrado

em qualquer um.

O telefone me convida a passar uns trotes

procuro uma lista de nomes

não a encontro

nem debaixo da cama: onde vai parar tudo que não sei onde está

mas encontro um jacaré feito cinto

deve ter sido levada pra servir de cobertor

aquele beberrão!

Foi embora novamente

não suportou eu querer falar e falar e falar

de estrelas.

eu não sou egoísta!

Emprestaria sete vezes sete,

se quisesse

ele já é bonito e nem quis me ouvir

eu sempre soube da sua alergia por plantas verdinhas

coloquei-as ali propositadamente

a gente precisa machucar as pessoas que amamos

vez ou outra só para nos desculparmos depois

esse jogo é divertido

perigoso e infinito

todo mundo sabe fazer assim

todo mundo insiste nisso

parte dos jogos de todo dia.

Faço aquele inquisidor de segundos, minutos e horas se calar

adiantando seus ponteiros em nove horas

eu sei que o Sr. Sol é muito esperto

e ademais não tem tanta pressa.

Até a Srta. Terra dorme despreocupada pra não conversar nada sobre estrelas

ela também é bonita e não se importa se quero ou não lhe emprestar o colar

que ainda nem inventei.

Faço um fogareiro com os pedaços da cama e do colchão

o quarto então esquenta e se ilumina, como uma estrela!

Alguns vizinhos tentam arrombar a porta,

que se danem, sou eu que não lhes dou atenção:

já é muito tarde e não recebo mais as visitas heróicas.

Estou ocupado conversando com o Fogo

Eu sei que ele pode me levar para onde as estrelas nascem.

Aquele relógio grita seu silêncio

aquele telefone se esconde da minha vista,

mesmo assim vejo um trechinho dele já todo retorcido,

e ele que ria das minhas tentativas frustradas.

Tanto calor e fumaças me dão enjôo.

E a conversa muito quente me faz suar

escancaro a janela da sacada enquanto desvio das plantas postas ali

súbito, a chuva parou

ela deve estar dormindo, aquela vagabunda

ímpeto de encontrar Dionisos apenas num salto

tenho muita pressa de sair deste décimo terceiro andar

se fosse por outro caminho quererão ter comigo e agora eu não quero

minhas asas estão secas

vou buscar as estrelas

vou inventar meu colar.

Fabiano Sampaio
Enviado por Fabiano Sampaio em 28/01/2009
Reeditado em 28/01/2009
Código do texto: T1408577
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