QUANDO EU CORRIA
Quanta saudade eu sinto!
Da terra molhada,
Da relva verde,
Do sol queimando meus pés ligeiros,
Faceiros,
Pela vida afora.
Das ruas compridas,
Pulando corda,
Jogando bola,
Andando à toa
Aonde o tempo voa.
Ativa e forte,
Correndo ao vento,
Mesmo ao relento
Da chuva fria,
Dos pedregulhos
Pontiagudos.
Quanta saudade,
Invade-me agora!
Quanta ironia!
Relembro tudo.
Até do canto da cotovia.
Do céu azul, do pôr-do-sol,
Das tardes quentes daquele tempo.
Tropeços mil,
Que maravilha!
Burilou-me o ser,
Esculpiu-me a alma,
Fazendo-me assim.
Já não tenho pernas
Para te andar,
Ó caminho,
Pés pra te fazer carinho!
Relvas,
Pedras,
Houve o extermínio.
Agora,
Posso apenas ver,
Pensar, relembrar,
E à noite sonhar correndo
Pelos gramados,
Pelas colinas,
Cavalgando,
Subindo às árvores
Como fazia outrora.
Oh! Saudade daninha,
Que me esfacela o peito!
Mata-me, às vezes,
Pra que eu renasça,
Cada vez mais forte.
Afinal,
Tenho a mente,
Que samba,
Corre,
Cavalga,
Faz rastros pela existência
E ameniza
As intempéries da estrada.