FEBRE

Olhaste-me

sem acreditar no que vias.

Ardia! Não conseguia ver-te.

Sentia tua mão de mulher sobre meu corpo.

Chorei quase constrangido.

Não conseguia ver-te:

ardia!

Pasma,

olhaste-me incrédula

como se eu não ardesse:

mas ardia!

As tuas mãos de amantes tornaram-se amigas

do suor escorrido pelo meu corpo

enquanto ardia e não te vias.

Delirei-te sem sentido,

ainda cego,

enquanto ardia.

Queria mandar-te às compras, acho,

ao salão de beleza, ao cinema mais próximo,

à farmácia, ao supermercado

só para que assim não me visses.

As tuas mãos acarinhavam-me suaves,

quais mãos de mãe,

sobre meu corpo enquanto ardia.

Quiseste beijar-me,

insisti em não querer teu beijo,

em vão. O amor, quando amor, contamina.

E só saíste à rua,

depois que eu tomei uma suculenta sopa de carne

e, por teimosia, um copo de água bem gelado.