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Acordo aos gritos e pontapés numa

Realidade gasta de desatinos e desencontros.

As imagens que agora me chegam são golpes

eram apenas arremedo de uma tecnologia

promessas de um progresso que beirava a loucura

Nas folhas impressas do jornal

um sangue que insiste em não estancar.

Não ouço mais os gritos discordantes,

nem vejo motins utópicos por igualdade nos becos

não sinto os artistas e pensantes se fortalecerem.

A arte se rejubila nos glúteos que dançam em desespero

nas criancinhas alijadas da sua inocência

decadentes antes mesmo de terem pêlos nas virilhas.

Continuamos finjindo que tudo bem, rezamos e nos unimos para minimizar o frio que sempre vem dos esgotos.

Moramos com altos muros e não podemos nem queremos ficar nas sacadas.

Amedrontados nos anestesiamos defronte telas hipnóticas e temos o mundo,

Seguros em nossos cobertores chineses, cheirosos e macios.

Antes ainda, nos embriagamos enquanto um fio de vida nos impulsiona a continuar.

Acordamos todos aos gritos e pontapés numa

Realidade gasta de desatinos e desencontros.

Na época de tantas catástrofes,

Agonizamos bazares beneficentes que apenas maquiam feridas e fraturas expostas em nossas costelas.

Usamos cores e roupas bonitas,

solitários,

diante o espelho do nosso confortável banheiro,

sabemos que cheiramos mal

disfarçamos com o perfume de flores.

Muitos desistem, enlouquecem e se esquecem de todo trabalho que deve ser feito.

Muitos choram e lutam por justiça, aquela mesma que protege apenas os fortes

Na lembrança embriagada,

uma lua cinzenta minguante é entrevista por uma nuvem preta, mas quase transparente da fumaça que nossos carros, refúgio da nossa solidão, formam num segundo ou dois, três quilômetros

Queremos muito e muito mais.

Inventamos modos de consumo que enganam nossos sentidos, aqueles mesmos que estão atrofiados

Lotamos academias, cheios em nosso egocêntrico desejo de juventude,

Ao mesmo tempo que nos tornamos cada dia mais superficiais e cheios de falsas esperanças.

Talvez nem vivamos para ver ‘um dia melhor’.

As fábricas das drogas da felicidade momentânea dependem das nossas angústias

eu penso que transformo meu universo.

Ainda assim o tempo, o dia, a noite,

deformam meu corpo,

embranquecem meus cabelos,

arejam porosidades até meus ossos.

Geração que é tão etérea em sua ideologia como o gás do refrigerante da moda

Desta vez Pandora não abriu a caixa

Nós que nos metemos dentro dela e não vemos estrela,

se apagou.

Estamos dentro e não será aberta.

A mesmíssima caixa que pagamos ternamente em prestações que nos garantem descontos no comércio de fármacos, lojas de departamento e outras idiotices brandas.

Precisamos de mais um tempo, talvez uma chance

realidade gasta de desatinos e desencontros.

impossível

a terra nos chama e nos espera

nem tudo acabou: temos rios, lagos.

Temos o oceano, os sete mares, temos água potável!

Temos uma ciência a nosso favor

Por favor! : meios tecnológicos,

Fins tecnológicos que me golpeiem na alma !!!

Espezinham minha inocência,

Se me lembro bem disso já tão desgastada

Essa é a vida que não quero viver e que no entanto é a que compartilho com milhares incógnitos

Se eu gritasse, não me ouviriam.

Se eu falasse, não compreenderiam

Se eu sonhasse, me acordariam.

Se eu vivesse mais liberdade, estaria a sete palmos em terra fofa sem lápide

Então esfrego minhas mãos para gerar energia

Espero que tudo se cumpra.

Acordamos todos aos gritos e pontapés numa

Realidade gasta de desatinos e desencontros.

Antes ainda,

Deixo o portão da vida entreaberto

Cautelosamente com armadilhas para ursos

Não foi isso que aprendi em anos de estudo

Não foi nisso que minhas sinapses,

Ainda tem isso, as sinapses! se desdobraram dentro de mim

Nem era nisso que desejava brincar aos meus cinco anos.

Uma lágrima desce e seca antes mesmo da boca pedir socorro,

Onde estamos agora? Onde iremos depois? Haverá um depois?

O despertador toca célere e estridente,

Troco-me,

visto um sorriso roto,

Da liquidação, do shopping center

Escondo os meus segredos debaixo do lençol que há dias não sinto vontade de trocar, embora devesse e com urgência,

E tomo o rumo, sigo o caminho de todos,

Sempre os mesmos todos, sempre as mesmas ilhas sôfregas

Nesta fila indiana de cada dia.

de cada vida.

Fabiano Sampaio
Enviado por Fabiano Sampaio em 25/01/2009
Reeditado em 25/01/2009
Código do texto: T1404274
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