Alguns poemínimos do livro "CATACLÍSMICA" - Tchello d'Barros

"CATACLÍSMICA" | Poemas | ®

Tchello d'Barros

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Parte I

DANTES

“Não há poema em si,

mas em mim ou em ti.”

Octavio Paz

revelo

me

em

teu

relevo

meu

fôlego

teu

fogo

ex-pira

aporta

saudade

aperta

o peito

flechado

fechabre

a porta

dispara

meu

peito

que

ao

ver-te

diz: pára!

verte

meu

peito

sem

jeito

por

ver-te

acaso

cedo ou tarde

cedo e caso

ah, caso!

em suma

me assuma

ou suma

amor

ou

causo

acuso

o

acaso

cada

caso

é um

caos

a maria

quem

diria

que

um

dia

ainda

me

amaria

partiu paraty

parti para ti

para ir e vir

pro que der e vier

e rir e sentir

nos vemos por aí

ri mas são

rimas minhas

com

estrelinhas

nas

entrelinhas

lute

como

uma

anita

garibaldi

obsoleto

juro

que

foi

tudo

absoluto

sempre essa

de vagar

e

divagar

sem prazo

devagar

e

sem pressa

universos

paralelos

:

uni versos

para lê-los

escrevo

não

pra ser imortal

escravo

mas

de um amor tal

escrevo

ora

pra uma mortal

do

poema

rimas

do

amor

rimos

da

vida

rumos

certas coisas

não tem jeito

entre um

e outro beiço

dança afoito

um mesmo beijo

em roma

como as

romanas

tua íris

melhor oásis

entre tantos

ires e vires

há noites

em que

todos

os atos

são falhos

a vida

é linda

mas a lida

vira luta

vide a elite

vira-lata

gente!

é urgente:

desmontar

o zeitgeist

vigente

- não me deixe!

- não me deixe!

- não me deixe!

- não! me deixe...

é só um palpite

por mais que se grite

todo esse drama

é mais uma trama

da mesma elite

toda alegria

de toda uma vida

coube num dia

com uma diva

curtindo curitiba

Parte II

PORVIR

“Há cem poéticas para um poema.”

Voltaire

acaso

c

a

s

a

l

a

m

e

n

t

lamento

a alma geme ao

e

n

c

o

n

t

r

a

r

a alma gêmea

:

vampira

me

tara pira

me

tira para

me

sara vira

me

rola rala

me

suga siga

!

de barrete vermelho

ele pula pula pula

garoto peralta

no mato na urbe na web

saltita maroto

toc toc toc

com seu cachimbinho

ele fuma fuma fuma

sopra a baforada

na cara obtusa

da rasa cultura

pop pop pop

pra metáfora da vida

a imagem é meio tosca:

mas há quem se pergunte:

se é a aranha ou a mosca?

pequena história do desejo na contemporaneidade

ou

mostra teu neurônio que eu mostro o meu

ou ainda

nossas afetividades hodiernas entre plasmas e fótons

o

l

i

u

n

i

d

i

s

l

a

i

q

u

e

dize-me:

o dízimo

diviniza-me

ou

dizima-me

?

é que

o pastor

é meu senhor

e nada

lhe fartará

procura-se

o sentido da vida!

quem sabe tá em

ananindeua

possivelmente em

arapiraca

numa dessas em

piracicaba

de repente lá por

umuarama

quiçá pros lados de

araranguá

talvez ali por

jacarepaguá

ou quem me dera no

ibirapuera

só segue essa pista:

estando mal da vista

não vá a um

o

t

o

r

r

i

n

o

l

a

r

i

n

g

o

l

o

g

i

s

t

a

a

a

(antes)

partida

j

o

r

n

a

d

a

(agora) oásis (agora)

j

o

r

n

a

d

a

destino

(depois)

isto não é um poema

isto é um poema

isto é um poema?

Isto é um isso?

poema é um isto?

um poema é istmo

poema isto é um não

isso não é um isto

isto é um isto

um poema é um poema é um poema

e vc c / isto?

sou/estou

sulglobalista

barra

ocidental

barra

sulamericano

barra

brasileiro

barra

sudestino

barra

fluminense

barra

carioca

barra

da tijuca

pequena história

de um inconfessável

(e impublicável)

porém frenético

quiçá concupiscente

microrromance de ocasião:

randevuco-vuco

viver é impreciso

mas precioso de fato

:

esse mundo é redondo

pena um ou outro chato

olho no olho

tête-à-tête

cara a cara

rara é a vida

que nos basta

e nem é cara

um toque na face

um beijo na boca

um riso na cara

origem

r

a

s

c

u

n

h

o

s

s e r

r

l

e

i

a

u

t

e

desígnio

escarlate

enrubescido

acarminado

coruscante

ruborizado

ver a vida em

em vermelho

e ver melhor

poso

logo

é isto

(clic!)

posto

logo

existo

a vida é bela

no

Rio

não

rio

a vida é bala!

— Zé, tá fazendo o quê?

— Nada!

— E tu, Juca?

(Rooonc... Zzz...)

— Tchello?

— Estou apenas imerso

usufruindo minha cota

de dolce far niente

entre um e outro verso

surfando a galáxia

neste quadrante

do universo

— Ah, cala a boca...

o amor não é nada

nada mais que a verdade

de se amar por inteiro

sua cara-metade

ascende a lua vermelha

batom na boca da noite

acende uma centelha

aeh!

coé!

qual

foi?

de

caô?

não

é

por

quê

vc

no

Rio

que

vai

dar

B.O

e

s

c

r

i

v

e

n

h

o

escrivir

e

s

c

r

i

v

a

g

o

escrivou

e

s

c

r

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v

o

l

t

o

i

a s

h t

l o

i isto n

d não é uma ã

n ilha o

o é

d u

e m

r a

Parte III

DEVIR

Série 5 X 5 = 25

“Cada palavra é, segundo sua essência,

um poema.”

Guimarães Rosa

I

Mas há quem prefira

Um tal sexo tântrico

Melhor o destino

De nascer latino

Não mais que romântico

II

Pinturas rupestres

Em si um sinal

Pode ser demência

Essa inteligência

Artificial

III

Sabe-se que há luzes

Além da avenida

E ao escurecer

O que pode haver

Além dessa vida?

IV

Dia de limpeza

Arrumar a casa

Lavar bem a roupa

E secar a louça

Faxina na alma

V

Sobre a corda bamba

Sem olhar pro lado

Pois queda é dano

Num lado o profano

No outro o sagrado

VI

Um primeiro passo

E seguir em frente

Depois dessa estrada

Há outra jornada

Além do poente

VII

A felicidade:

Nem verso nem prosa

Muito menos samba

Talvez propaganda

Do tipo enganosa

VIII

Tanta solitude

Aqui e agora

Enigma na vida:

Há tanta partida

Todos vão embora

IX

Relógio voraz

Que o tempo come

Consome em mordidas

Devorando vidas

Menos o teu nome

X

Belo par de olhos

Que rimam num verso

De um rosto poema

Tela de cinema

Um olhar imerso

XI

Algo não somava

Naquela equação

A o corpo entregava

Porém B se dava

Com seu coração

XII

Mas se insinuarem

Que você tá velho

Lembre-se que a vida

Jamais é vivida

Dentro de um espelho

XIII

Dentro de si ocorrem

Viagens inteiras

E o eu verdadeiro

Surge por inteiro

Além das fronteiras

XIV

Toda essa distância

Que foi percorrida

Parece sem fim

Talvez seja enfim

Metade da vida

XV

A nua verdade

Quando se aclara

É como se diz

Como seu nariz

Tá na sua cara

XVI

Qualquer dia desses

Ainda neste ano

Tudo vai mudar

Se alguém lhe falar

Amor eu te amo

XVII

Luz câmera ação

Num set de cinema

A vida real

Corta no final

Da última cena

XVIII

É noite de lua

Uma brisa quente

Suave se atreve

Percorrer a pele

Silhueta ardente

XIX

Na jura de amor

Momento presente

Instante fugaz

Que não volta atrás

Amar para sempre

XX

Fazer hoje mesmo

A revolução

Eis a maior prova

Talvez uma nova

Civilização

XXI

Qual a cor da vida?

Pois siga essa pista:

A obra se pinta

Com pincel e tinta

Na tela do artista

XXII

Dia de verão

Lá no Arpoador

Ao sol caliente

Mas nada mais quente

Que um beijo de amor

XXIII

Bom dia continente!

Entra ano sai ano

Não sai a paixão

Desse coração

Sulamericano

XXIV

Sinuosos seios

Miragem visagem

Mais que um duplo sol

Luzes de um farol

Luas na paisagem

XXV

As mãos que se tocam

E entrelaçadas

Seguem pela praça

Tudo tem mais graça

Andar de mãos dadas

Parte IV

HODIERNO

“O poeta nasce no poema,

inventa-se em palavras.”

Helena Kolody

morre-se tanto hoje em dia

de raiva de medo de ira

mas ainda tá pra nascer

alguém que possa viver

de verso de metro e de rima

o maestro beethoven

tão eruditamente

por fim morreu em paz

sem saber que um dia

sua sinfonia tocaria

no caminhão do gás

cada efemeridade

em somas adicionadas

a tantas transitoriedades

dividem o tempo presente

multiplicado por mil futuros

numa antiga equação

intitulada de eternidade

a vida em si é um risco

e pode ser dolorido

não tem mapa nem aviso

o mundo ataca de frente

e por mais que você enfrente

te pega desprevenido

a vida é um rabisco

e do muito que nos dói

por vezes não faz sentido

aquele beijo não dado

um verbo que jaz calado

o amor que não foi vivido

naquela obra prima

de um grande artista

óleo sobre tela

de vastas medidas

nas cores vibrantes

um segredo escondido:

entre cenas dantescas

mostrando a história

de uma grande batalha

entre a soldadesca

o semblante sublime

de um rosto em êxtase

uma galáxia engole outra

e até oceanos se misturam

mas nenhum abalo sísmico

se compara como quando

nossos olhos se encontram

disse um rapsodo

sem firula:

o bardo brada

o vate vocifera

o aedo urra

o gado muge

o povo ulula

certas cenas no palco

tem seu final feliz

são partes do drama

outras cenas terminam

no apagar das luzes

num clímax na cama

na boca e no rosto

e no resto do corpo

amaro o sumo

húmida a saliva

e doce o hálito

fruídos fluídos

olfato e palato

num gozo imerso

na carne do lábio

na ponta da língua

o urro no jorro

o gosto do verso

e ter na mente:

quente é o amor

hoje e sempre

pode haver

quem te faça

perder tempo

mas também

quem te faça perder

a noção do tempo

um monstro famigerado

o tal do deus-mercado

com sua mão invisível

soca esse mundo risível

e uma prova costumeira

tudo que há na geladeira

a novidade

é que a vida

essa diva atrevida

ávida divindade

movida à vaidade

em idas e vindas

gravita vadia

em ditas envídias

TOME MUITO CUIDADO

Cuidar de toda flora

Pelas folhas da selva

Entre caules e ramas

Cuidar da Amazônia

Cipoal de saberes

Entre curas e lendas

Cuidar da Sumaúma

Muito antes que suma

Uma atrás da outra

certas cenas no palco

tem seu final feliz

são partes do drama

outras cenas terminam

no apagar das luzes

num clímax na cama

pois entrevistaram deus

que respondeu apoplético:

- se tenho fé no homem?

hum, continuo cético...

'O Rio de Janeiro continua lindo'

O Rio de Janeiro continua rindo

O Rio de Janeiro continua indo e vindo

Mesmo quando estamos partindo

Tantos ontens neste aquiagora

Quantos futuros cabem nessa hora

Degustar uma cidade que nos devora

Embora jamais se queira ir embora

Se cada povo com seu Olimpo

Aqui: meu sonho Sulameríndio

Em todo dia que se vai fruindo

Onde o rio da vida segue fluindo

um homem é uma ilha?

e a mulher-maravilha?

hoje ambos se encontraram

dentro dessa redondilha

um parzinho de vírgulas

namorava bem afoito

e aí o clima esquenta

de repente frente a frente

mais que sessenta e oito

e menos que setenta

as viagens duram pouco

respiros de liberdade

esse diminuto tempo

nesse limitado espaço

entre uma e outra cidade

boa noite disco ígneo

de rubra aura escarlate

que hoje fere o breu noturno

viva brasa no carvão

ascendendo em solitude

fulgindo lúmens solares

e qual mesmo entre nós dois

está mais só nesta noite?

muito pouco

só ver-te

melhor aos poucos

sorver-te

e pouco a pouco

absorver-te

talvez seja uma verdade

que nos chega cedo ou tarde

é que mesmo a eternidade

tem prazo de validade

mesmo que você discorde

ainda que você teime

talvez essa vida seja

um grande videogame

somente de sims

semente de sinas

só mente me tira

só mete mentira

de frente me usa

diferente me ousa

sua sede me sua

sumo de teu hálito

sumo em teu hábito

que habita meu cio

orbita meu ciúme

excita-me no ócio

ouço sua luz

em voz de soluços

ALMA VITAE

Alma vitae alma vitae

Que nasce e cresce

Em corpo que luta

Em formas de seres

De planta de bicho

De fungo de alga

De grilo de peixe

De folhas e flores

São vidas que brotam

Na terra na mata

No lago nos mares

Na selva no mangue

Na seiva no sangue

Alma vitae alma vitae

Do centro da terra

Aos raios solares

É vida que emerge

Vibrando tensa

E sempre intensa

Um lume de aura

Que pensa e pulsa

Em formas que plasmam

Os seres que somos

Na esfera azul

Da tela celeste

Que gira num verso

E no universo

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Tchello d Barros
Enviado por Tchello d Barros em 23/01/2009
Reeditado em 03/07/2024
Código do texto: T1400238
Classificação de conteúdo: seguro
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