CIENTISTA DE ARAQUE

CAPÍTULO II

1954

Conforme confissão anterior, eu nunca fui estudioso, mas sempre tive lampejos de gênio, de inteligENTE, por ater-me a raciocinar muito acerca de tudo. Assim, desde criança elocubrava e elocubrava e era cada idéia digna de genialidade.

Certa feita, eu ainda muito pequenino, estava deitado, entre o desaguar da tarde na foz da noite, assim entre as cinco e quarenta e cinco e seis e quinze horas contemplando um incrível plenilúnio que vislumbrava pegar firmeza com a consolidação plena da noite e percebia, embora a imensa distância entre o solo lunar e o pátio de minha casa à Rua Joaquim da Maia, nº 7, Largo 2 de Julho, que a superfície lunar parecia muito irregular com montanhas e buracos, além do gigantesco São Jorge montado em seu alazão, uma das patas a esmagar um incrível dragão que povoava meu imaginário infantil.

Lembrei-me de uma potente lente de uma aposentada máquina fotográfica da família que eu em traquinagem ajudara a desmontar.

Levantei-me e fui buscar a tal lente e fazendo-me valer da sua capacidade de aumentar e aproximar tudo o que se olhasse através dela, confirmei a irregularidade do cintilante planetóide.

Havia lido num pequeno almanaque de curiosidades que no nosso satélite não havia possibilidade de vida por falta de atmosfera, de oxigênio. No mesmo folhetim ou foi numa estampa Eucalol vi algo sobre a bomba de hidrogênio ou atômica que destruiu Hiroxima e Nagazaqui matando ou deixando seqüelas para todo sempre, a milhares e milhares de vidas.

Aí passei a imaginar como seria a Lua com vida, paisagem multicolorida, que incluía oceanos, florestas, rios, céu azul com nuvens branquinhas mudando de formato e ofertando centenas de desenhos de bichinhos e de bichões que se formavam e dissipavam rapidamente, mas eu sempre voltava à realidade lunar desértica.

As experiências com viagens espaciais ainda não havia começado, mas que sempre povoava a imaginação humana, e o cinema, e alguns livros de ficção como os de Júlio Verne e os gibis de Superman e Flash Gordon já disparavam na frente da URSS e dos EUA.

Então continuei a imaginar a Lua como se fosse Itapuã daquela época, colônia de pescadores e de veraneio, enfim, como fazer para tornar a Lua aprazivelmente viável? Foi quando veio a brilhante idéia. Brilhante sim, se considerarmos que saía de uma também brilhante mente infantil no auge dos nove anos de idade.

Pensava: se o homem inventou uma bomba de hidrogênio para a destruição, por que não inventar uma bomba de oxigênio, bombardear a Lua, dando-lhe enfim a atmosfera vital?

Antonio Fernando Peltier
Enviado por Antonio Fernando Peltier em 22/01/2009
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