DA MINHA VIDRAÇA VEJO

DA MINHA VIDRAÇA VEJO

Da minha vidraça vejo

O sol, as estrelas ou a lua.

Vejo se neva ou chove,

Só não vejo a face tua.

Não sei o teu caminhar,

Nem o teu jeito de beijar,

Mas que importa, se tudo,

Eu posso imaginar…

De imaginação em imaginação

Poderei construir teu ser,

Poderei ouvir o teu coração,

Sem ter de te ver.

Da minha vidraça vejo

Em movimento a multidão,

Vejo até o que não desejo:

O cego guiado pelo cão,

O desejado, mas negado beijo,

O polícia atrás do ladrão,

O carro em contramão,

O velho que deu trambolhão,

E até, veja-se o pejo,

A criança a tocar harpejo

Para obter um tostão.

Da minha vidraça vejo

A vendedora de queijo,

O vendedor de balão,

O pedinte a tocar acordeão

Pouco sabendo de solfejo.

Da minha vidraça vejo

O que vai além-mar,

Enquanto em sonho e desejo,

Verbalizo o verbo amar.