HOMEM DE PEDRA
Homem de Pedra
Lílian Maial
Eu conheci o homem de pedra.
Aquele que não sonhava, que se bastava, que não amava.
Conheci a pedra e todas as suas ranhuras.
Deslizei na superfície e tentei penetrar-lhe a essência.
Conheci o homem de pedra,
e busquei atravessá-lo com as cores das palavras,
encantá-lo com os versos das canções.
Conheci o homem e suas idéias,
seu sabor de solidão e desapego.
Que a pedra é seu estado latente,
contra os dias e os não dias.
Rondei seus pesadelos e quase lutei com seus fantasmas.
Rolei em suas ribanceiras.
Despenquei das ilusões rarefeitas.
Conheci um dia esse homem e,
água que me fiz,
pensei furar a pedra dura, de tanto bater.
Mas percebi-me tão pedra quanto ele.
Uma pedra ao avesso.
Que rola feito lágrima por seu corpo.
Que espera feito o velho por seu sorriso.
Que se engana feito criança por sua palavra.
Que lamenta feito aquele que não viu passar o tempo.
Que se aloja no fundo de um lago,
atirada por um gesto qualquer,
condenada ao esquecimento,
feito o homem de pedra.
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